Ao Dentro
Bel Ysoh e Patrícia Baik
Curadoria: Paola Ribeiros
Novembro 2022
Os Moon Jars de Bel Ysoh não são exatamente redondos, são feitos de argilas diversas e banhados de branco. E em Ao dentro se reúnem pela primeira vez em razão de uma ocasião muito especial, a visita de um novo irmão que tem seu tempo de vida determinado pela exposição.
Um Moon Jar demora para ser erguido, o que é uma característica inerente da cerâmica, se feito muito rápido pode ceder, se feito muito devagar pode quebrar, quando se leva a peça à queima nem sempre ela sairá inteira, a margem de erro sempre espreita e lidar com isso é parte do aprendizado do/a/e ceramista. A construção de um grande objeto demanda uma negociação muito maior, um tempo muito maior.
Esse irmão maior teve um tempo curto, e isso é parte do jogo. Então o que é possível ser aqui e agora? Ele, assim como seus irmãos, cita uma peça tradicional coreana que é feita de duas partes espelhadas de porcelana branca unidas invisivelmente pelo centro formando uma circunferência que lembra a lua cheia, e é daí que vem seu nome: Moon Jar (Jarro Lua) ou 달항아리. Bel Ysoh cita suas origens todas as vezes que faz um Moon Jar, porém mais do que de origem ela fala de um presente possível, imperfeito, e por isso mesmo singular e irrepetível. Essa beleza é incontornável. Cada peça pode ser uma nova história, um novo espelho, mais uma face de Bel.
Pegar nas mãos, olhar de perto, sentir o vento passar pelos cabelos, sentar junto, descansar. Essas ações podem servir de narrativa para a reunião de instantes que Patricia Baik apresenta através da articulação da pintura, do desenho e do objeto. Em um tecido fino cuidadosamente tratado e cortado como um espelho sustentado por fitas do mesmo tecido amarradas a arabescos de madeira foi feita uma pintura onde se pode ver três pessoas debruçadas sobre a mesa. Uma de cabelo longo e escuro, outra de cabelo médio e escuro e uma de cabelo curto loiro. Essas são personagens que já encontramos outras vezes no trabalho de Baik, mas essa é a primeira vez que elas habitam o mesmo espaço e compartilham um momento de intimidade e alta vulnerabilidade, que é o sono. O arabesco e a forma do tecido parecem fazer analogia a uma janela ou a um espelho mágico, em ambos podemos ver através. Ao observar esse instante de cores quentes, que se esvanece no branco do tecido, podemos ser colocados/as/es no lugar de voyeur que prende a respiração para não ser pego contemplando o momento.
Talvez o convite a olhar seja a maior provocação de Baik nesse conjunto, porque o pequeno desenho e a pequena mesa com um igualmente pequeno copo de chá nos obriga a chegar perto para ver melhor. Pode gerar ainda a vontade de pegar com a mão e trazer para perto para sorver o momento e senti-lo no próprio corpo. Afinal o copo de chá não está vazio. Mesa e copo compõe uma oferenda ? A quem se destina esse altar?
Bel Ysoh e Patricia Baik nos convocam para dentro por meio de uma delicada construção de margens feitas de espaços, pessoas e jarros, que quem sabe não são a mesma coisa em faces e estados diferentes como a água, o gelo e o vapor. Arriscar-se e aceitar esse convite é se inserir nas narrativas que desfrutam tempo e partilhar do prazer que é estar junto.
Paola Ribeiros