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Poof!

Mariano Barone, Raquel Campos, Tetê Lian, Wagner Olino

Curadoria: Icaro Ferraz Vidal Junior

Agosto 2023

'o vazio é o espaço psíquico da metáfora"1

Trabalhando a partir de diferentes mídias e linguagens, Mariano Barone, Raquel Campos, Tetê Lian e Wagner Olino investigam, nas obras aqui reunidas, as noções de ausência, falta, vazio, inacabamento e desaparição, em um diálogo inusitado com referências pop e vernaculares. O título da exposição, POOF!!, remete à onomatopeia que, nas histórias em quadrinhos, indica o repentino desaparecimento de algo ou alguém. POOF!! evoca, portanto, o desafio de representar um sumiço, a mudança de um estado no qual havia algo para um estado no qual já não parece haver nada, a construção de um vazio.

Como sugerido pelo título da mostra, o estatuto desta condição negativa, trabalhada por figuras da monta de Jacques Lacan e Martin Heidegger, é aqui endereçada a partir de referências advindas da cultura popular. Como reconhecer, no seio de uma cultura que aparentemente se esquiva de toda negatividade, os espaços vazios? Como transformar as lacunas em territórios privilegiados de criação? Como contornar o vazio, sem preenchê-lo e sem despencar no abismo indiferenciado do  cinismo? São estas questões alinhavam as poéticas de Barone, Campos, Lian e Olino em POOF!!.

Inspirado na embalagem de um fármaco popular de propriedades mágicas chamado Quita maldición, Mariano Barone apresenta um conjunto de pinturas no qual a referência gráfica protagoniza uma composição que, ao mesmo tempo em que remete a certo inacabamento pela economia com que é construída, testemunha a produção do vazio, e descortina as relações entre repetição e falta.

Com uma pesquisa em torno das estratégias de representação do cinema de horror, Tetê Lian apresenta um trabalho site specific no qual uma bruma espessa invade, a intervalos regulares, o espaço expositivo, criando uma atmosfera na qual os limites entre a materialidade e a imaterialidade são esgarçados. Também aqui, através da criação de um sistema que tende à desaparição, aborda-se a questão da repetição em sua articulação com a desaparição.

Já Raquel Campos instala no espaço expositivo uma coluna feita de cabeças produzidas em papel machê e parcialmente ornamentadas com massa de biscuit em cores vibrantes. Leitmotiv na obra da artista, o corpo fragmentado e inacabado, torna-se unidade compositiva. Encobertas pelo caráter lúdico e vibrante do trabalho, as ausências encontram-se sutilmente distribuídas no conjunto escultórico.

O lúdico também comparece na poética de Wagner Olino, cujas composições frequentemente resultam da sobreposição de formas recortadas sobre placas de acrílico e remetem a seres cuja monstruosidade podemos associar ao desencaixe entre tais formas. As esculturas de Olino embaralham as noções de cheio e vazio, mas, à diferença das tradições concreta e neo-concreta, fazem isso sem qualquer aspiração à pureza, tão saturadas de cor quanto as excitantes imagens de videogame.

Assim, POOF!! revisita a negatividade que fundamenta os modos trágicos de existência a partir de inflexões mais vulgares e mundanas. Como a noção de infinito, a falta, o vazio e o nada esbarram na materialidade do mundo e só podem ser sugeridos. Tende-se ao vazio, como se tende ao infinito. Em ambos os casos, experimentamos a vertigem de uma abertura radical: porque é somente no vazio que conseguimos manobrar as sensações e os sentidos.

Icaro Ferraz Vidal Junior

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1 FÉDIDA, P. L’absence. Paris: Gallimard, 1978.

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