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Conversa de Formiga

Arthur Palhano e Vivian Caccuri

Curadoria: Guilherme Teixeira

Agosto 2022

Você ouve isso?


Escuta, pois raspo a terra, fricciono meu abdômen e a linha invisível que me guiava a você se desfaz, nossos cheiros tomam tudo que é sedimento e nossos caminhos se perdem entre as mil vias possíveis da superfície ao nosso destino. Há algo de engraçado no modo como trombamos e nossos corpos se amontoam ao firmamento quando perdemos o norte do cheiro uma das outras.
 

Cheira, e seguimos a liberação química dos açúcares, moldando nosso trajeto à sua vontade, nos interpondo a gigante que seja que se coloque em nosso caminho. É frontal e invisível o caminho que nos leva da nossa fome e desígnio ao topo da copa das árvores que alimentam a boca e faca de uma humanidade inteira.
 

Escuta, pois raspo a terra, fricciono meu abdômen, e nosso som nos guia e se junta ao de milhares de futuras borboletas azuis que carregamos e infiltramos em nosso ninho ao imitar o chamado de nossas mães. Elas emulam nosso choro e, compadecidas, as tornamos filhas também do nosso complexo afundar no solo ou na pedra.
 

Cheira, a violência doce que os homens impuseram a si mesmos, no ontem e no hoje da história e o modo como interpolamos e habitamos o futuro da dieta e do vício, na complexa mistura entre nutrição e cegueira.


Escuta, pois raspo a terra, fricciono meu abdômen e carrego comigo o desejo de dez mil espécies mais uma que clama o doce que escorre às mesas.

Você ouve isso?

Guilherme Teixeira

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